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Valete. O trunfo das rimas em português no baralho da diversidade europeia
O projecto Diversidad sintoniza 20 artistas urbanos numa experiência visual e sonora, com direito a concerto, site, exposição, vídeo e um álbum à venda esta segunda-feira
Esta carta tem uma virtude inegável: é a mais honesta das 52. Valete tem poucos videoclips, e os que tem, o próprio se adianta na avaliação: são "muito maus!" A diáspora portuguesa espalhada pela Europa fez vista grossa às produções de orçamento limitado, incapazes de ganhar uma vaza que seja aos telediscos de Nas, uma das suas referências no hip-hop.
Terá gostado "talvez da presença" de Keidje, nome de baptismo anterior ao verbo rimado, que lá ia debitando letras como Valete nos tais vídeos de qualidade ao nível de um inconsequente duque de paus. E assim a comunidade emigrante apontou o seu nome para representar Portugal no projecto Diversidad.
"Sondaram uma série de nomes entre os portugueses em França, e escolheram-me a mim. Fiquei muito lisonjeado."
O rapper que em tempos convidou o treinador Paulo Bento a abandonar o banco do Sporting com a gentileza dos versos, integra o grupo de 20 artistas europeus reunidos no álbum que celebra a cultura urbana ao som de rappers, MC e scratchers, promovido pelo European Music Office e com o apoio da Comissão Europeia.
Produzido pelo MC alemão Curse e pelo francês Spike Miller, o CD está disponível online desde 14 de Fevereiro no endereço do projecto, www.diversidad-experience.com, onde se cruzam participações da Bósnia à Holanda, passando por Alemanha e Grécia, aproximando beatmakers, MC, DJ e scratchers, em 14 faixas e nove línguas. A versão física, para quem prefere o resultado nas mãos, chega segunda-feira às lojas.
Juntar três idiomas numa só canção não é obstáculo, é motivação extra. A gravação decorreu ao longo de dez dias, em Abril de 2010, numa mansão em Bruxelas de fazer corar Babel. "Éramos 20 num estúdio, onde passámos quase todo o tempo trancados. Foi fantástica a mistura de culturas. Línguas, roupa, comida, todos diferentes."
Foi a terceira vez que saiu de Portugal, a primeira dentro da Europa, depois de duas passagens pelo continente africano. Teve tempo para trocar palavras em crioulo com um napolitano que desfiou letras sobre máfia, sangue e tráfico de droga, retrato possível de uma realidade negra "explicada com uma eloquência fantástica".
Não faltou oportunidade para uma intromissão com desfecho feliz entre Mariama e a dupla Remi&Shot. "Há uma música, a ''On My Way'', em que participam a alemã e a croata. Apaixonei-me pela faixa e pedi para entrar também, mas nesta não queriam rap, queriam que fosse cantada. Escrevi uma letra em português à revelia e gravei tudo. Ficou óptimo e acabei por entrar."
As faixas vão subir aos palcos dos festivais de Verão pela Europa fora, mas não há datas previstas para Portugal. "Duvido que consigamos vir, porque o cachê do espectáculo ao vivo é muito alto."
Valete é a "carta do azar", aquela que se for escolhida pela audiência compromete o número mágico, confirmou Keidje depois de assistir a um documentário sobre ilusionismo que inspirou o alter ego, o tal que "não vai em truques". Estreou-se em 1997 com Adamastor, com quem começou a cruzar palavras nas ruas de Benfica e formou o Canal 115 e a Horizontal Records. Com 16 anos desfilou pelas mix-tapes lançadas pelos DJ Bomberjack e Cruzfader.
Licenciou-se em Ciências da Comunicação e em 2002 lançou o álbum "Educação Visual". Quatro anos depois é tempo de "Serviço Público". O rapper que divide o tempo entre o departamento comercial de uma empresa de recursos hídricos e a gestão da panificadora que abriu em São Tomé e Príncipe prepara disco novo. "Homo Libero", em fase de mistura, sai depois do Verão. Da Damaia para o mundo. Ou, para já, para a Europa inteira.
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